sábado, 9 de agosto de 2008

Voa qualquer légua pra estar com as pessoas que mais amo...


Florzinhas, peço licença a vocês para fazer uma homenagem a uma pessoa muito especial para mim.

Há 12 anos a morte se fez mais forte do que a vida e separou, fisicamente, o meu pai de mim. A morte venceu a vida, porém o amor é invencível e só aumentou com a distância.

Viagem de Novembro, de Carlinhos Veloz, é uma música que acho linda, porém triste. Desde que a ouvi pela primeira vez, me apaixonei por ela. Há alguns dias a Orquídea falou que essa canção também era especial para ela. Contudo o significado era diferente. Sempre interpretei a música como a história de um casal apaixonado que se vê separado pela distância. A doce Orquídea me fez enxergar a música de outra forma. A viagem da canção era, na verdade, a morte. A morte que separou pessoas que se amavam. Então me lembrei do meu pai.

Até hoje essa idéia de morte não entra na minha cabeça. Meu pai era marinheiro e para mim essa era apenas mais uma viagem e que logo ele voltaria e me envolveria nos seus braços. Aliás, no primeiro sonho que tive com ele, após a sua partida, as pessoas me diziam que ele tinha viajado. E aquilo parecia tão real. Só depois de muito tempo pude perceber que a viagem não tinha volta.

Vivi 12 anos ao lado daquele que se tornou o meu herói. Foram 12 intensos anos. Sempre fui muito ligada a ele. Todos os dias ele me ajudava a resolver as lições escolares. Às vezes, os problemas de matemática esgotavam a minha paciência e começava a chorar. Meu pai pacientemente me acalmava e eu voltava a fazer os exercícios. Tempos bons aqueles em que eu pensava que as equações matemáticas eram os maiores problemas que se poderia ter.

Todos os fins-de-semana íamos à casa dos meus avós. No caminho, a parada na sorveteria era sagrada. Mais sagrados ainda eram sabores dos sorvetes. Morango e doce de leite! Por maiores que fossem as opções, nunca troquei os sabores. Há mais de 12 anos que não tomo um sorvete de morango com doce de leite. Não por não querer, mas por não encontrar o bendito sorvete de doce de leite. Porém nunca esqueci daquele gostinho, o gosto da minha infância. Quando a saudade aperta é esse o sabor que sinto e que enche a minha boca d’água.

Sempre gostei de futebol e isso herdei do meu pai. Ele torcia pelo Vasco da Gama, pois morou por um tempo no Rio de Janeiro. Poucos anos antes de sua derradeira viagem descobri que ele torcia pelo Náutico. Já que eu torcia pelo Sport, resolvi provocá-lo com uma pergunta:

- Painho, para que time o senhor torce?

E escutei a coisa mais linda dentre todas as que o meu pai me disse:

- Meu time é você! – respondeu provocando lágrimas nos meus olhos e embargando a minha voz.

Sempre que estou triste e querendo desistir de tudo, lembro dessa frase, sacudo a poeira e dou a volta por cima. Uma coisa eu posso dizer: Pai, se eu sou o seu time, o senhor é o meu técnico.

Quando o dia dos pais se aproxima, meu coração fica apertadinho... Como eu gostaria de enfrentar uma daquelas longas filas para comprar o presente do meu pai. Mas, hoje, o único presente que posso dar para ele são as minhas orações e as flores que deposito no seu jazigo. Apesar das dificuldades que enfrentamos, os momentos felizes superam os dias nublados. Recorro a uma frase do nosso jardineiro para me referir a painho, pois creio que ela diz muito sobre ele.” Mesmo que chegue o momento que eu não esteja mais aqui e meus ossos virem adubo, você pode me encontrar no avesso de uma dor.” Ele era exatamente isso: o avesso de uma dor!

Esses anos todos me fizeram chegar a uma conclusão: os pais não morrem, viram anjos. Anjos da Guarda. Se há alguma vantagem em não termos os nossos pais perto da gente, é termos ao invés de um, dois anjos da guarda.

Parabéns a todos os pais! E àqueles que têm o privilégio de ter os seus, digam que o amam porque a gente não sabe quando nós ou eles viajarão para perto de Papai do Céu.

Ao Jardineiro, que também é pai de dois meninos lindos, um carinhoso e perfumado beijos meu e de todas as Flores Vercillianas.

Beijos perfumados e apertadinhos de saudade!
~ Margarida ~


Para quem não conhece a música Viagem de Novembro, posto a seguir:

Viagem De Novembro
Carlinhos Veloz

Foi uma vez
Numa triste tarde de novembro
Logo eu parti
E aos poucos te perdi de vista
E viajar foi como morrer
Só em saber que na manhã
Seguinte estaria assim tão distante
E não veria mais teu sorriso
A morte rondou minha cabeça
E conter tanta dor foi preciso
Amanheci
Era um dia triste ainda
Em novembro
Te busquei em vão
E aos poucos lembrei da viagem
Mas estar aqui é como nem estar
Pois estas sempre comigo
Aqui no meu coração
O pensamento guiando
A saudade voa qualquer légua
Pra estar com as pessoas
Que mais amo
Estar aqui é como...

Nenhum comentário: