domingo, 17 de agosto de 2008

Jorge Vercillo, versos e versões

Florzinhas, hoje posto aqui um artigo escrito por Wilson Francisco. Ele passou a admirar o trabalho e a sensibilidade do nosso jardineiro através da esposa e porque não dizer, passou a integrar a família Vercilliana. Clã dos que acreditam na sensibilidade, na amizade e em tudo que é belo. Agradeço ao Wilson por ter, gentilmente, autorizado a publicação do texto no nosso Jardim. Para quem quiser ler mais textos e conhecer o site, o endereço é:
e-mail: wilson153@gmail.com


Jorge Vercillo, versos e versões



Há um atavismo natural que às vezes emerge da oculta intimidade do ser humano e, se nos pega desprevenidos, causa estragos. Popularmente se diz que temos cinco minutos de bobeira. E temos de nos cuidar porque se fizermos algo ou falarmos alguma coisa nesse momento ou envolvido pelo tal atavismo que ensombra nossa visão sobre as coisas, poderemos cometer injustiças e ter até atitudes insanas.

Pois é, eu fui acometido por esse atavismo que me fazia ver Jorge Vercillo uma cópia/sombra do Djavan. Não sei por quê. Minha mulher é apaixonada pelo Djavan, no entanto, recentemente matriculou o Vercillo em sua escola de afeição, colocando-o na primeira cadeira, para apreciá-lo intensamente.

Tanto ouvi suas músicas em casa que depois de ouvir suas palavras, sobre música e vida, desfiz essa primeira impressão e passei a apreciar a musicalidade do autor de Himalaia. Dia desses, adquiri para ela um DVD do Jorge Vercillo e me encantei com as “coincidências” e conexões que sua alma realiza.

Numa delas, ele conta que chegou numa cidade para a realização de uma apresentação. Estava sozinho e ao ultrapassar o saguão do hotel sentiu uma intensa necessidade de se deitar ali mesmo. Incontinente, pensou: não vou pagar esse mico, pelo menos se estivesse toda a banda... E seguiu até seu apartamento. Passou algumas músicas e para espairecer saiu para o alpendre e ficou surpreso, quando pôde observar que no teto do saguão fora projetada uma pirâmide, justamente sobre o local em que ele ficou desejando deitar-se, na chegada.

Uma sintonia perfeita dele, e certamente a engenhosidade e sensibilidade de quem construiu aquele hotel, deve beneficiar todos os que visitam aquele local.

“Certa noite, eu estava em casa compondo e escrevi uma letra de música chamada “Mandala”. Meses depois descobri que este quadro é uma mandala”, diz Jorge Vercillo, referindo-se a uma tela que tem na sala de sua casa. O parceiro dele, nessa música é o Torquato Mariano, argentino. Na época da composição dela costumavam jogar bola e durante o jogo e, mesmo quando se falavam ao telefone, chamavam-se Navarro, em atitude espontânea que brotou na alma de ambos, sem uma explicação lógica. Um dia ele folheava com Gabriela, sua esposa, um livro do Jung e, para espanto de ambos, encontraram ali a informação de que uma das primeiras tribos americanas a se utilizar da mandala para adivinhações foi a tribo Navarro.

Eu não sei se o livro consultado por eles é o que Jung escreveu em 1952, sobre sincronicidade. Mas a verdade é que todos esses fatos narrados e vividos pelo autor de Fênix tem a ver com a sincronicidade, que é um processo de sintonia do ser com o Universo, com as coisas, seres e fatos. E que o povo julga ser “coincidência”. Todas essas “coincidências” provam que o Universo é simetricamente perfeito e que Deus está em tudo e em todos.

Mas na verdade, o que muito encanta em Jorge Vercillo é a sua consciência em relação à música. Quando ele com sua fala sincronizada e profunda ensina que produz a música num processo que vem da alma, do hemisfério direito do cérebro, trazendo-a como que da intimidade do Universo de si mesmo para espraiá-la para o universo exterior aproximando-a de seus sentidos, do seu sentir. Se houver a sintonia da alma com o corpo, então a música está pronta.

Extraordinária essa consciência do cantor, que nos remete aos grandes mestres da humanidade que trazem nas suas mensagens universais a profundidade da alma para enredá-la em seu corpo tecendo em cada palavra sua emotividade para que todo e qualquer ser mortal, em sua pouca plenitude, possa entender o significado e a essência do que ele traz do Universo. Sob esse parâmetro, Vercillo é um mestre.

Diz ele: Elaborei essa música - referindo-se à “Monalisa” - pensando e sentindo Monalisa uma menina, sem saber por quê. Sentia no sorriso e olhar da foto, uma expressão mistério. Só depois do livro “Código da Vinci”, soube que Monalisa é uma figura andrógena, uma mistura do Deus Amon - masculino e Deusa Isis - feminina. E o antigo nome da Deusa era Lisa.

O cantor de “Asas Cortadas”, por sua essência e sintonia com o Universo é um andarilho das estrelas, porque vive como que pisando nas luzes que cintilam no firmamento. Com sua inteligência e amor traz para o coração humano a delicadeza e profundidade do que permeia a musicalidade universal guardada pelos deuses e só disponibilizada para os que têm sintonia fina e espiritual.

Aliás, essa música ele a fez para J. Maranhão, parceiro dele em muitas músicas. Ele diz que a letra de “Asas Cortadas” sintetiza a busca pessoal interna de alguém que tem a consciência de que o ser humano pode ir além dessa realidade tão pequena e limitada que a gente vive. Mas faz uma advertência: “às vezes, eu me sinto uma gaivota sobre o mar que mergulha no óleo, não podendo mais voar”.

No entanto, como sempre escreve em seus versos, ele não se rende aos contratempos. De pronto, vem à tona o ser divino que sabe ser e então se envolve na musicalidade que transcende e efetua novos e arrojados vôos, além da adversidade e das estripulias dessa sociedade ainda dominada pela insanidade da temporalidade, da materialidade.

Não economiza elogios sobre a música brasileira, dizendo que esta reúne a complexidade rítmica da música africana, o calor do Caribe, a harmonia do jazz e vai além do soul americano. Ele não se considera um poeta, e sim um letrista. O som e o significado de cada palavra é o mais importante em minhas músicas. As minhas letras são líricas, enfoco o amor social, pela natureza, pelos deuses, enfim, em tudo que realizo está o amor.

É muito gostoso não somente ouvir as cantigas de Jorge Vercillo, mas sentir em suas palavras uma versão poética sobre o mundo e as coisas e uma sintonia ampla e profunda com todas as vertentes musicais de antigos nomes da música universal como também de outros cantores sem expressão na mídia, que ele ouve e apóia em sua jornada pelo Universo da música.

Confesso, hoje sou fã desse cantor e criador de letras e versos que encantam e tocam as fímbrias das roupas dos anjos, trazendo ao nosso rosto a aragem de suas asas e depositando em nossa alma, o calor e a grandeza de Deus.

Foto: Renata Gabrielle ~ Margarida ~

~ Margarida ~

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