quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O coração na ponta das chuteiras


Uma derrota é sempre uma derrota? Afirmo, categoricamente, que não. Cada perda tem a sua face. Li em um site de notícias que perder lutando dói menos. Não sei se a dor é menor, mas, certamente, fica a convicção de que não foi por covardia que ela se fez.

Foi assim que a medalha de ouro da seleção feminina de futebol transformou-se em prata. A prata mais dourada que já vi porque foi regada pelo suor da perseverança. Se as meninas não chegaram ao lugar mais alto do pódio, tiveram o reconhecimento dos irmãos tupiniquins.

“Verás que um filho teu não foge à luta.” Lamento que os rebentos da seleção masculina não tenham encarnado o espírito guerreiro invocado no hino da nação que deveriam defender. Todavia é a outro senhor que os jogadores servem. O dólar, o euro e o real: a trindade que para eles é a santa.

Amor a camisa. Ah... o amor! Se antes movia nossos soldados no campo sagrado do futebol, hoje, ele é uma utopia. A inesquecível derrota para a Itália na Copa do Mundo de 82 feriu quase mortalmente uma geração. O lenitivo ficou por conta da garra e do futebol bonito que os combatentes brasileiros demonstraram na ocasião.

Raça que sequer entrou em campo no Mundial de 98 (França) e que passou longe do estádio dos Trabalhadores (Olimpíadas de Pequim 2008). Porém, hoje (21/08/2008), floresceu no mesmo estádio dos Trabalhadores com as guerreiras-meninas brasileiras.

Mostraram a uma nação e aos machistas (que insistem em afirmar que mulher não entende nada de futebol) que aprenderam a jogar com os homens. Isso, nós mulheres, temos que admitir! Mas uma lição foi ensinada e, ao contrário deles, elas não esqueceram. Quando entram em campo tiram o coração do peito e o colocam na ponta das chuteiras.

Valeu, meninas! O ouro é só questão de tempo porque vontade e amor vocês têm de sobra. E quem sabe um dia, os meninos aprenderão com vocês o que os ancestrais deles ensinaram: amor à camisa.

Foto: O Globo

~ Margarida ~

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